Quem Produz e Quem Consome
Espaços ocupados, transformações e ressignificações
Não que se queira ver o produtor como vendedor apenas, não significa adentrar na lógica da mercantilização e da precificação buscando margens de lucro como objetivos únicos. Por um outro olhar, compreende-se que há espaços a serem ocupados e transformações sendo propostas e vivenciadas. Na construção de outros futuros, outros projetos de sociedade, é possível pensar em relações de consumo pautadas na solidariedade, no consumo e na comercialização justas em relação à utilidade do trabalho humano.
Dentro dos espaços a serem ocupados, a organização do cooperativismo, de ambientes para comercialização de produtos agroecológicos, como as feiras, e a formação de um senso crítico que permita um consumo consciente, são pautas. Este último funciona também como prática educativa que permita enxergar as interconexões e se enxergar dentro delas, percebendo o que está por trás de um produto vindo do Agro 4.0 e outro do Agroecológico.
Mercados institucionais conquistados por meio de políticas públicas – como o Programas de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação escolar, a busca por certificações agroecológica, a construção e conquista de políticas de fomento à produção da agricultura familiar e agroecológica – marcam um caminho de disputa dentro do terreno hostil do mercado capitalista. Houve alguns avanços, mas o contexto hoje é de desfinanciamento gradual dessas políticas públicas e de reforço do incentivo ao agronegócio.
As consequências são imediatas, como a perda contínua da soberania alimentar, problemas nutricionais e de saúde, as violências nos territórios produtivos, principalmente contra povos indígenas, tradicionais, quilombolas e comunidades da agricultura familiar. É necessária a defesa da sociobiodiversidade diante da proposta superficial de “recuperação verde” da economia, em que os “bens públicos da natureza” viram mercadoria e os saberes desses povos, sujeitos de direito, protetores e guardiões do meio ambiente e representantes de nossas raízes culturais, são menosprezados e vilipendiados.
Dentro do campo das transformações e resistências, é construída a ressignificação da alimentação e o reconhecimento da necessidade da soberania alimentar. Nessa linha, também há a ressignificação do trabalho, dos territórios, em que se provoca um resgate de outras visões em relação à natureza e ao ser humano. Seguindo esses fios, também aacontece a aproximação de produtores e consumidores. A economia solidáriam nesse sentido, é guia. Ela inspira e permite pensar outros futuros. Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs), redes agroecológicas no campo e na cidade, os produtores agroecológicos de assentamentos agrários e de ocupações fazem parte da construção desses outro projeto de sociedade.
Em tempos de pandemia, as interconexões já existentes na sociedade apenas afloram e os interesses se escancaram. O que os produtores e consumidores enxergam neste cenário e o que é possível fazer para defender a sociobiodiversidade e os direitos de todos a um ambiente saudável e à soberania alimentar? O que é preciso aprender dos sistemas produtivos agroecológicos e de quem os constrói? Como renovar o olhar sobre a relação produtor/consumidor e reconhecer onde esta se encontra e que papel pode cumprir nas complexas teias das relações sociais? Como fazer parte ou apoiar a ocupação desses espaços e promover essas transformações?
O encontro
O terceiro módulo do curso Agroecologia e Pandemia: reflexões sobre o presente e outros futuros possíveis, é composto por uma roda de conversas e uma oficina.
Ambos momentos pretendem levantar reflexões sobre a ressignificação do ato da alimentação e do trabalho, dentro dos socioecossistemas. Pretende-se refletir como conseguir os alimentos que necessitamos para uma nutrição completa. Tal caminho é diferente das relações mercantilizadas, que distanciam produtor e consumidor final, subvalorizando terra e trabalho.
A oficina está disponível no canal do SoFiA no youtube.
Serviço
Convidados (as) da roda de conversa: Fernanda Dias (membra da rede agroecológica da RMBH, graduanda em agronomia na Universidade Federal de Viçosa e trabalha no setor de comercialização de produtos agroecológicos na Associação Aflora (Florestal-MG)), Fernando Rangel (integrante da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de Belo Horizonte – AMAU e agricultor) e Mariana Oliveira (agricultora, licenciada em Educação do Campo, professora da rede estadual de MG e integrante da Associação Amanu – Educação, Ecologia e Solidariedade/ Jaboticatubas-MG)
Mediadora: Marilda Quintino ( engenheira agrônoma, integrante da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de Belo Horizonte – AMAU e conselheira no COMUSAN- Conselho Municipal de Segurança Alimentar Nutricional de BH)
Oficineira: Lua Clara Medeiros (geógrafa, parte da equipe técnica da Associação Amanu – Educação, Ecologia e Solidariedade e professora da rede estadual de Minas Gerais/ Jaboticatubas-MG)
Caso você perdeu ou queira rever a roda de conversa ou a oficina, acesse:
Roda de conversa: Quem Produz e Quem Consome
Oficina: Quem Produz e Quem Consome – Oficina
Atividade da oficina: Reconhecendo Saberes e Práticas
Repositório e material de referência
Introdução à Economia Solidária
Autor: Paul Singer
Disponível em: https://fpabramo.org.br/publicacoes/wp-content/uploads/sites/5/2018/04/Introducao-economia-solidaria-WEB-1.pdf
Aprender Economia
Autor: Paul Singer
Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1bMHHhcSvzrR7hnxNOtOq3zrRDQtjC5ga/view
Autogestão: economia solidária e utopia
Autor: Cláudio Nascimento
Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/otraeconomia/article/view/1104/288
A Autogestão Comunal
Autor: Cláudio Nascimento
Disponível em: https://base.socioeco.org/docs/2019_nascimentocomunal_final.pdf
Economia Solidária e Autogestão: a criação e recriação de trabalho e renda
Autor: José Tauóle e Huberlan Rodrigues
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5250/1/bmt_n.24_economiasolidaria.pdf
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